sexta-feira, 11 de maio de 2012

Artifícios

O ressonar sereno da palavra  que repousa 
é a afirmação precisa de que a vida segue viva.
Afoita, calada, pronta, inacabada, 
não se permite amordaçar pela ameaça do tempo.
Passa, deixa, leva, traz. Não importa!
Viver é conjugar o possível verbo, 
que se insinua sem docilidade
e se apodera da contingência existencial
do infante poeta.
Dores e ausências são matérias cotidianas.
Alegria, por vezes.
Se vier mais frequente, a poesia se vai...
Melhor que se esconda por perto, 
caso seja solicitada, 
para que esteja à mão, sem estar.
Ela substitui a palavra, amordaça o verbo,
desaponta a caneta, tempera o poeta.
A sobriedade é raiz fecunda,
projeto válido para quem deseja o fundo 
e não se contenta com a primeira fala.
A força contrária desenvolve heróis...
A força da fala revigora o gesto.
Palavras são artifícios da alma.
Diz quem quer...fala quem pode.

Do livro Tempo: Saudades e esquecimentos
Fábio de Melo

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