sábado, 7 de janeiro de 2012

Aos Deuses sem fiéis

Talvez a hora escura, a chuva lenta,
Ou esta solidão inconformada.


Talvez porque a vontade se recolha
Neste findar de tarde sem remédio.


Finjo no chão as marcas dos joelhos
E desenho o meu vulto em penitente.


Aos deuses sem fiéis invoco e rezo,
E pergunto a que venho e o que sou.


Ouvem-me calados os deuses e prudentes,
Sem um gesto de paz ou de recusa.


Entre as mãos vagarosas vão passando
A joeira do tempo irrecusável.


Um sorriso, por fim, passa furtivo
Nos seus rostos de fumo e de poeira.


Entre os lábios ressecos brilham dentes
De rilhar carne humana desgastados.


Nada mais que o sorriso retribui
O corpo ajoelhado em que não estou.


Anoitece de todo, os deuses mordem,
Com seus dentes de névoa e de bolor,
A resposta que aos lábios não chegou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário